Sapiens e Demens no pensamento criativo do design
A União Europeia declarou 2009 Ano Europeu da Criatividade e da Inovação, pretendendo com isto salientar o papel fundamental da produção criativa para o futuro da Europa. O objectivo foi evidenciar a criatividade como motor da inovação e como factor decisivo no desenvolvimento de competências pessoais, profissionais, sociais e empreendedoras. Sobretudo na área do design, que é, por excelência, motor da inovação, a criatividade é desde sempre um factor de sucesso essencial e decisivo. No entanto, e apesar disso, o fenómeno da criatividade no design, e mais concretamente o tema do pensamento criativo no ensino desta disciplina, não foram até hoje suficientemente investigados segundo uma perspectiva científica. A tese que aqui se apresenta dedica-se ao estudo do pensamento criativo do designer e dos aspectos que lhe são adjacentes e está estruturada em três partes: pensamento criativo, pensamento criativo no design e pensamento criativo no ensino do design. No intuito de chegar a um novo entendimento da criatividade, e em paralelo com as áreas da investigação da criatividade e da teoria do design, serão também considerados conhecimentos da teoria de sistemas, das ciências cognitivas e da teoria do caos. Como âmbito de trabalho escolhemos a abordagem transdisciplinar do construtivismo radical, uma teoria do conhecimento que reconhece a pluralidade de cunho biográfico e cultural das percepções e das perspectivas da realidade. Também a dicotomia simbólica sapiens-demens serve aqui para delimitar e lançar um novo olhar sobre o fenómeno da criatividade, o pensamento criativo, o pensamento do design e as medidas didácticas para o ensino do design. Após uma exposição introdutória do desenvolvimento do conceito de criatividade e da identificação da mudança de paradigma, o conceito de criatividade da primeira parte do trabalho será demarcado do conceito de pensamento criativo. Enquanto entendemos criatividade como a capacidade de um sistema autopoiético de criar algo de novo a nível simbólico, definimos pensamento criativo como a capacidade cognitiva para produzir deliberada e direccionadamente novas ideias num determinado domínio simbólico. O pensamento do design, um pensamento em variedade e possibilidades, é, na sua essência, pensamento criativo. Através de uma percepção intensiva e lúdica do seu meio ambiente e recorrendo a diversos procedimentos de pensamento e em interacção com o seu meio social, o designer criativo é capaz de conceber novas combinações na sua área projectual específica e de as configurar visual e materialmente de forma a imporem-se no mercado. Também os procedimentos de pensamento que operam no pensamento do design correspondem, na generalidade, aos procedimentos do pensamento criativo. A diferença reside apenas no conhecimento simbólico específico que se integra nos procedimentos do pensamento criativo, sendo que no design o pensamento criativo se caracteriza ainda por uma forte componente visual e conceptual. O processo de pensamento criativo no design, que será tratado na segunda parte do trabalho, resulta pois da interacção de formas de expressão e de conteúdos semânticos específicos e de cinco procedimentos de pensamento fundamentais: a percepção selectiva de nuances interessantes, o pensamento analítico, o pensamento associativo, o pensamento por analogia e, finalmente, o pensamento sintético, isto é, a construção de novos modelos, quer sejam modelos de ideias ou modelos projectuais. No que toca à relação entre o sapiens e o demens simbólicos no contexto do design será neste trabalho tratada a inter-relação plena de tensão de conhecimento e imaginação, razão e emoção, planeamento e acaso, construção e destruição no pensamento criativo no design, assim como a conjugação de ambos os pólos na atitude dualista e dinâmica da personalidade do designer criativo. Na terceira parte deste trabalho iremos ao encontro da questão de como pode o pensamento criativo ser estimulado e treinado no ensino do design. Na procura e no desenvolvimento de medidas adequadas será tomada como referência a didáctica construtivista, que considera a aprendizagem um processo de autodesenvolvimento de sistemas cognitivos. Para fomentar o pensamento criativo no ensino do design propomos como medidas, entre outras, exercícios dirigidos à capacidade de percepção, a aplicação da heurística sistemática e o desenvolvimento de capacidades metacognitivas em disciplinas específicas centradas na criatividade. O objectivo do ensino do design deveria ser a formação dos estudantes como pensadores criativos (design thinkers): estudantes criativos que não só desenvolvem o mundo dos artefactos mas também a si próprios. O desafio que se coloca ao ensino do design no futuro será pois proporcionar aos estudantes um processo de amadurecimento pessoal que lhes permita entender e gerir melhor os seus processos de pensamento criativo, assim como os seus processos de criação e de aprendizagem.
Tags:Design Thinking, Pensamento criativo
Autor:KATJA CHRISTINA TSCHIMMEL
Ano:2010
Referência bibliográfica: